Um amor verdadeiro

 

O falso amor é possessivo, buraco sem fundo, quer sempre mais para si, até devorar tudo.
 
O verdadeiro amor é diferente. Pois um amor verdadeiro é aquele que se basta.
 
Quando ama desse jeito, a gente não precisa de mais nada, senão o bem da pessoa amada.
 
Afinal, a gente só pode ser feliz de verdade se houver felicidade no coração de quem a nossa alma faz morada.
 

Sereníssimo

 
Tantas vezes o golpearam de forma traiçoeira. Outras tantas o destino se encarregara de lhe trazer dores e perdas. Algumas vezes amargara, tão-somente, dos desamores a indiferença... Mesmo assim, amargara. Até que suas ilusões todas morreram.
 
Então, por incrível que pareça, restou-lhe no espírito, apenas, uma singela pureza.
 
Seu olhar se tornou calmo, sereno, compassivo. Não mais dava conta do mal. Compreendia o drama humano como uma escola de aprendizagem, por onde cada um está de passagem. Nada mais esperava dos imaturos ou dos primitivos, senão que agissem como tal. Já dos mais crescidos, entendia porque viviam tão atentos às lições do ensino.
 
A experiência o fizera entender que abrir mão de tudo dá liberdade para estender os braços para o Todo. Portanto, nem mesmo ansiava encontrar, um dia, o Paraíso. Mas quem o conhecia segredava que isso era porque o Paraíso, há muito, já o havia encontrado.
 

Troca de olhares

 
Essa tristeza que aponta no canto do teu sorriso, quando timidamente contemplas o mundo, nada mais é do que uma sombra de desesperança, projetada pelos horrores que percebes em tanta violência e injustiça.
 
Mas lança um olhar a teu próprio coração. Acharás nele amor e bondade, e uma capacidade inesgotável de perdão, abaixo de todas as camadas de dor e decepção. 
 
Essa é a tua essência. A mesma essência do que é feito tudo no mundo.
 
E assim como em ti encontraste beleza, olha de novo ao teu redor. Descobrirás que não estás só. Descobrirás outros olhares ansiosos por se deparar com essa beleza fundamental que a tudo permeia. 
 
Então, cada vez que um deles cruzar com o teu, o brilho do encontro há de revelar a verdadeira face da existência, por debaixo do seu manto de mistério, com um sorriso pleno e belo, a te observar. 
 
Nesse vislumbre sublime está a força para que se renove sempre a tua esperança.
 

Coração livre






Perdoar é coisa do coração, não da cabeça. A cabeça faz registro, arquiva na memória, cumpre o seu papel. Mas o coração acusa o golpe onde se abre ferida. Por isso, a decisão analítica de deixar para lá pouco importa. O que faz diferença, mesmo, é a vontade do coração de se tornar cada vez mais limpo, livre e libertador.

O segredo da sabedoria

 
Na tradição oriental, existe uma história, com desfecho aparentemente enigmático, onde um estudante pergunta ao seu mestre como se pode alcançar a iluminação.
 
Responde o sábio: “Você já comeu seu arroz?” “Sim”, diz o aluno. “Então, lave a tigela”, orienta o mestre.
 
Não é preciso ser uma espécie de escolhido, nem ter um vasto conhecimento adquirido. O que importa, de forma prática e singela, é tornar o conhecimento aplicável ao dia a dia.  
 
Isso é sabedoria.
 

Equilíbrio

 
Nietzsche disse que a existência humana é uma corda estendida entre o primitivismo e a plenitude.
 
Também penso assim.
 
Somos equilibristas. Em nossa alma ressoa um chamado à travessia. A corda não se eleva muito acima do chão. Abaixo, há um lodaçal.
 
Alguns se conformam com a queda e, feito porcos, chafurdam, e ainda se recreiam na lama, e vivem como se nada mais houvesse de possibilidade. Tornados cínicos por sua descrença íntima e secreta, são estes os que vivem a se revolver em fofocas, deslealdades, falcatruas, até mesmo crimes e todo tipo de corrupção. Entretanto, por dentro, amargam a humilhação da sujeira e o desespero pela falta de perspectiva de seu próprio espírito.
 
Outros teimam em se reerguer cada vez que caem. Insistem no aprendizado do equilíbrio. Em momento algum se contentam em permanecer onde estão. Avançam. Pé ante pé. Mas avançam. Sentem que a vida só terá valor se puderem ir além.
 
Os que fazem a travessia são os que de fato transformam a realidade. O seu singelo espetáculo demonstra a grandeza humana. Revela do que somos capazes. E impressiona. A tal ponto que influencia mudanças. Estes tornam o mundo um lugar novo, para si e para todos. Um lugar que, de alguma forma, jamais será o mesmo após a sua passagem.
 

Vita brevis



Um vento ligeiro, cuja música sibila em nossos ouvidos, o sopro agita os nossos cabelos, numa carícia desliza por nossa pele... E se vai.

A vida é de uma brevidade avassaladora!

É curta demais para ser desperdiçada com amarguras, contida por medos e culpas, sufocada em remorsos inconfessos... E tão cheia de possibilidades para terminar arrependida, pranteada sobre as sementes mortas de potenciais insatisfeitos.
 
A vida, também como o vento, só se expressa plenamente quando flui desimpedida.
 
Por isso, descomplique. Aceite as pessoas de bem como elas são. Arrisque. Se errar, corrija, peça perdão. Ame sem reservas e você conhecerá tudo que o amor lhe reserva. Trabalhe. Faça sempre o seu melhor. Não há recompensa maior do que sentir orgulho em cada gota do próprio suor. Priorize a ética. Porque todo gesto nosso repercute e gira em torno do mundo até nos achar de novo.
 
Ah! sim, nem se preocupe em encher os bolsos. Isso torna a carga pesada e o caminho doloroso. E mantenha a fé. Sempre mantenha a fé. Ela nos permite segurar a invisível mão que nos guia por este Universo de mistérios. Por fim, tenha compaixão. Simplesmente porque assim que se é gente, assim é que se alcança um coração sensível à vida em toda a sua intensidade.
 
Pois a sabedoria do tempo é singela como a sabedoria do vento. Quem a observa, caminha ciente de que está de passagem por este chão e depende da humildade para aprender a valorizar as coisas simples do dia a dia, por onde a vida flui com autêntica felicidade.