O valor de cada um

 

O abade se aproximou do noviço e tomou lugar ao seu lado no banco do jardim.
 
– Notei que você está enfrentando dificuldade para se relacionar com algumas pessoas.
 
– Acho que o senhor não observou direito.
 
O velho mestre se limitou a erguer uma das sobrancelhas.
 
– Algumas pessoas enfrentam dificuldade para se relacionar com quem tem opinião própria... E eu não vou mudar o meu jeito de ser por causa delas.
 
– Hum... Compreendo... Mas se você está tão seguro de si e das suas opiniões, por que precisa se impor dessa maneira?
 
E arrematou:
 
– A pessoa que faz de tudo para se impor, tentando a todo custo provar seu valor, é aquela que, por amargas experiências, lá no fundo, foi levada a duvidar dele.
 
O moço perdeu a fala. Uma mistura de sentimentos formou nó em sua garganta. Aquele homem havia ultrapassado facilmente as suas barreiras para, com ternura incomum, tocar em seu íntimo.
 
– Ser autêntico – prosseguiu o mestre –, num mundo onde todos tentam se ajustar a padronizações, é uma das maiores e mais importantes realizações humanas. Neste ponto eu concordo com você. Entretanto, autenticidade exige humildade, humildade para admitir que o próprio ser não está pronto e, em resposta, passar a construí-lo diante dos olhos das pessoas, com todos os erros e acertos que isso implica.
O abade fez uma pausa, seu olhar se distanciou, como se deixasse de enxergar as coisas ao redor para contemplar suas memórias.
 
– Sabe, filho, eu descobri que é nesse processo que a gente aprende a se amar, porque descobre qualidades valiosas em si mesmo. Daí, já não precisa provar coisa alguma a ninguém, nem lutar por aceitação, pois o nosso valor se expressa com naturalidade. 
 
Então, tornou a olhar nos olhos do noviço e concluiu:
 
– Ao reconhecer e aprimorar as nossas qualidades pessoais, a gente se dá valor de verdade. E quanto mais valor a gente se dá, mais valor a gente tem.