Faxina no coração

 


Perdão é faxina que se faz no coração. Porque a morada da alma da gente não é lugar para se guardar coisas quebradas pela passagem desastrada de alguém, ou imagens envelhecidas em retratos que só trazem aperto, muito menos preservar a pegada suja de algum sapato - que sequer mereceu andar num espaço tão sagrado.
 
Perdão é limpeza que se faz sem ressentimento. Porque é gesto de amor, amor-próprio, essencial à vida que vale a pena viver, e se desdobra àqueles que a gente deseja acolher no peito, e ao Deus que vem habitar onde a pureza ergue seu templo.
 
O coração assim, livre de entulho, puro, deixa de ser depósito de amarguras, canto escuro onde se esconde e sufoca o pranto, para se transformar em refúgio iluminado, de portas e janelas abertas, fonte de paz e entusiasmo.
 
Por isso, há muito desisti de ser do tipo que teima em acumular quinquilharias, com essas velhas e decrépitas manias de juntar estorvo. Quero sempre deixar espaço em mim para acolher tudo de bom que a vida tiver a oferecer – especialmente, o novo.