Revolta


Ao refletir sobre a existência, Albert Camus concluiu que só há um jeito de viver plenamente: Revoltando-se! Não, não se trata da revolta por rancor, amargura, frustração. Nem tampouco da luta armada ou do jogo de artimanhas para derrubar desafetos. O que nos leva a enfrentar os aspectos sombrios da realidade é o sonho, o sonho acordado, utópico, iluminado de esperanças.

Não foi assim com Jesus? Todo mundo, à sua volta, acreditava na espada, vingadora de toda e qualquer opressão. Menos ele. Ele acreditava no poder do reino de Deus, nas forças transformadoras da fé, nas mudanças que se operam de dentro para fora.

A revolta legítima, revolucionária, digna da natureza humana feita à imagem divina, é aquela do coração que insiste e persiste em olhar além. Além das mazelas herdadas no próprio DNA e na mentalidade aprendida, além da absurdez dos acontecimentos aleatórios e incausados, além das injustiças e perversidades mundanas, até mesmo além das circunstâncias mais difíceis e dolorosas. 

Revoltar-se é a ousadia de se inconformar, dar a volta por cima daquilo que limita, definha, desencanta, para se reencantar com a vida. Revoltar-se é voltar a ter a simplicidade de coração da criança que acredita na beleza, na força do bem, na felicidade. E, como criança, voltar a ser representante do reino divino, levando, inclusive aos confins dos domínios da desesperança, a boa nova de que o futuro sempre será melhor para quem se atreve a sonhar.